O que Os Dois Morrem no Final nos ensina sobre viver intensamente
- Clarissa Brait
- 19 de ago.
- 3 min de leitura

Existem histórias que parecem simples, mas que chegam até nós para mudar a forma como enxergamos a nossa vida. Os Dois Morrem no Final, de Adam Silvera, é exatamente assim. Quando lemos sua sinopse pela primeira vez, já sabemos o desfecho: Mateo e Rufus irão morrer. Essa certeza poderia afastar o leitor, mas, na verdade, é justamente esse fator que nos aproxima da história. Ao acompanhar as últimas 24 horas dos dois garotos, não aprendemos apenas sobre despedidas, mas sobre a urgência de viver.
Mateo e Rufus são personagens opostos. Mateo é um cara reservado, cheio de medos, alguém que sempre deixou a vida passar pelas frestas da janela. Já Rufus, é mais impulsivo, intenso, marcado por perdas, mas ainda assim disposto a se jogar no que a vida oferece. Quando os dois recebem a ligação da Central da Morte e descobrem que aquele será o último dia, acabam se encontrando através do aplicativo “Último Amigo”. O que começa como uma parceria improvisada se transforma em algo maior: uma amizade verdadeira, construída em poucas horas, mas capaz de marcar para sempre.
O mais curioso é perceber como essa história, que tem a morte como ponto de partida, acaba se tornando um hino à vida. Porque, enquanto acompanhamos Mateo tentando vencer o medo e Rufus descobrindo novas formas de se abrir, também nos vemos refletindo sobre nós mesmos. Quantas vezes adiamos algo por medo? Quantas vezes deixamos de falar, de viver, de sentir? Sempre acreditamos que o amanhã vai estar lá, esperando por nós. Mas e se não estiver?
O livro nos lembra que a vida é feita de instantes, e que cada um deles pode ser inesquecível se for vivido com intensidade. Não se trata de grandes aventuras, viagens mirabolantes ou conquistas extraordinárias. Muitas vezes, o que faz um dia valer a pena é o simples fato de estarmos presentes, de olharmos nos olhos de alguém, de darmos uma gargalhada sincera, de confessarmos sentimentos que guardamos há tempo demais. É entender que, por mais que a morte seja inevitável, as memórias que construímos podem se tornar eternas.
A coragem é outro ponto fundamental da história. Mateo, que sempre se escondeu do mundo, descobre com Rufus que vale a pena arriscar, mesmo quando o tempo parece curto demais. E Rufus, que carregava dores e mágoas, aprende com Mateo que a vulnerabilidade também é uma forma de força. Os dois nos ensinam que viver intensamente não é ausência de medo, mas a capacidade de seguir em frente apesar dele.
E é impossível não trazer essa reflexão para o nosso dia a dia. Quantos cafés deixamos para marcar depois? Quantos abraços deixamos de dar porque “não era a hora certa”? Quantos sonhos estão guardados numa gaveta porque acreditamos que ainda teremos tempo? A verdade é que ninguém recebe uma ligação avisando quando será seu último dia, e talvez por isso seja tão difícil perceber a urgência do presente. Mas o livro de Adam Silvera é um lembrete constante: o futuro é uma possibilidade, não uma promessa.
Ao terminar de ler a última página, fica aquela pergunta que ecoa: o que eu faria se soubesse que não há amanhã? Talvez você pensasse em viagens, talvez em reencontros, talvez em realizar algo que sempre desejou. Mas talvez também fosse sobre coisas simples: ligar para alguém que sente saudade, pedir desculpas, confessar um amor, rir até a barriga doer. A beleza dessa história está justamente nisso, nos mostrar que viver intensamente não depende de tempo, mas de escolhas.
No fim, Os Dois Morrem no Final não trata-se apenas sobre a morte. É um convite para celebrar a vida todos os dias, sem esperar ocasiões especiais, sem deixar para depois o que pode ser vivido agora. É sobre aproveitar cada instante, por mais banal que pareça, e transformá-lo em memória. Porque o tempo passa, mas os momentos que escolhemos viver permanecem para sempre.
E então, a pergunta que o livro nos deixa continua: se hoje fosse seu último dia, você teria vivido de verdade?
Comentários